quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ela, tão frágil sob a luz amarela do abajur





Por que a noite
é densa
e tenho medo?
Por que a mente
deságua sempre
esta torrente instável
sobre mim?
Oscila inquieta,
hora calma,
hora frágil,
despedaçando-se
sem me dizer porque.
Meus cigarros queimam
depressa demais,
as garrafas morrem caladas.
Onde estão todos vocês?
Tenho medo.
Que medo é esse?
Às vezes não consigo
me mover além da luz
deste abajur amarelo.
Mas passa,
o medo passa.
Mas
volta...
sempre volta:
tão genérico
quanto antes.






domingo, 11 de abril de 2010

Pedaços de Oceano


pedaços do oceano
chegam até mim,
pedaços distantes
carregados por correntes brilhantes...
apenas pedaços
dum oceano
distante...


segunda-feira, 29 de março de 2010

Mancha Lunar

Uma mancha
no céu do meu quarto,
um borrão perdido,
esquecido,
escondido
daqueles olhos baixos
que deixavam
de se voltar para o infinito.
A mancha era aquilo:
um ser dual inconsciente,
apartado da própria existência,
cravado na face branca
de um teto de concreto lunar.







segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Presença do Divino





Enquanto cagava
a toalha na porta me encarava
como uma velha conhecida.
Conhecia meu corpo:
todas as frestas,
pelos e cabelos.
Conhecia outros corpos...
Me encarava nos olhos:
não sei se me julgava,
se me amava
ou
se apenas deleitava-se
num estado de crescente curiosidade.
O fato é que
a maneira como se portava,
o formato adquirido
ao se pendurar na maçaneta
da porta de madeira,
me lembravam uma santa...
e eu, abençoado,
cagava naquele altar.